e
outras
=PERMITO-ME
ACONSELHAR AS AUTORIDADES PORTUGUESAS A DEBRUÇAREM-SE SOBRE ESTES
ESTUDOS POIS É TUDO DEMASIADO GRAVE O QUE TEM ACONTECIDO EM ALGUNS
RIOS PORTUGUESES E COM ESPECIAL INCIDÊNCIA AQUI NO RIO
TEJO=
==============================================================
http://www.spq.pt/magazines/BSPQ/596/article/3000867/pdf
Este
estudo não é da minha autoria #De Mattos Sébastien, mas sim dos
autores abaixo indicados a quem agradeço e faço a minha vénia
pessoal e também em defesa desta Causa da defesa dos Rios e com o
enfoque no Tejo.
Obrigado
às Faculdades Portuguesas que participaram também nesta abordagem
técnica bem como aos Mestres e Pesquisadores.
Este
Estudo sobre a toxicidade dos produtos químicos utilizados pela
industria de tratamento de pasta de papel é publico. Existem outros
estudos análogos, incluindo de autores
portugueses=====================
Dioxinas
e Dibenzofuranos no meio Ambiente J.C.M.BORDADO*,
H.M.S.FERREIRA**, J.F.P. GOMES*** 1. INTRODUÇÃO Ao longo deste
século verificou- -se um grande desenvolvimento da indústria
química, nomeadamente na produção industrial de compostos de
síntese, tendo-se que uma das grandes áreas de desenvolvimento
ocorreu ao nível da química dos compostos organoclorados. O cloro,
apesar dos problemas de segurança e toxicidade que sempre
apresentou, foi un elemento que permitiu o aparecimento de diversos
polímeros - dos quais o mais vulgarizado é o policloreto de vinilo
(PVC) com inúmeras aplicações - dos herbicidas e pesticidas como o
DDT e fluidos dieléctricos e aerossóis designados genericamente por
clorofluoro-carbonados (CFCs). O fabrico intenso de compostos
organoclorados que se verificou a partir da década de 40, aliado à
sua grande estabilidade biológica e molecular, tem vindo,
progressivamente, a colocar problemas ambientais urna vez que os
compostos deste tipo, por regra bastante tóxicos, se têm vindo a
acumular na natureza de forma preocupante. Além disso, o esforço
humano em reduzir a acumulação dos compostos acima referidos
conduz, por vezes, à produção de compostos de toxicidade ainda
mais elevada como são as dibenzo-para-dioxinas policloradas,
correntemente designadas por dioxinas (PCDDs - "PolyChlorinated
DibenzoDioxins"). Algumas dioxinas e dibenzofuranos são
compostos cancerígenos para os animais e também para os seres
humanos. Embora ainda não sejam totalmente
conhecidos todos os efeitos das dioxinas nem estejam explicados todos
os mecanismos pelos quais elas actuam, já
se encontram definitivamente estabelecidos alguns aspectos
toxicológicos que permitem classificá-las como das substâncias
mais tóxicas conhecidas. No que diz respeito à
sua origem, tem-se que estes compostos nunca foram produzidos
industrialmente com um objectivo concreto mas resultam, como produtos
indesejáveis, de reacções secundárias em diversos processos
industriais das indústrias química, do papel e da celulose,
metalúrgicas (e particularmente, siderúrgicas), de
desengorduramento de metais e de fabrico de materiais poliméricos.
Contudo, urna outra fonte particularmente importante destes compostos
reside nos processos de combustão que ocorrem em incineradores, quer
se trate de incineradores de resíduos urbanos, hospitalares ou
industriais, quer de plásticos e de lamas de depuração de
tratamento de águas e efluentes líquidos, particularmente no caso
em que os teores em compostos clorados sejam significativos. Dada a
elevada perigosidade dos compostos anteriormente referidos, tem-se
vindo a procurar diminuir os níveis de emissão e os respectivos
impactes ambientais daí decorrentes. Esta diminuição passa pela
introdução de novos processos, incluindo a optimização da
combustão nos sistemas de incinera- ção, mas também pelo uso de
combustíveis isentos de cloro e pela substituição de produtos e
matérias-primas industriais contendo cloro. Concomitantemente, têm
vindo a ser desenvolvidas técnicas cada vez mais precisas de
doseamento analítico destas substâncias, embora seja este um campo
onde se verifica ainda a necessidade da realização de trabalhos de
Desenvolvimento de métodos, por forma a permitir urna correcta
monitorização ambiental que, de momento, ainda é difícil de
efectuar para alguns tipos de matrizes, em particular em amostras de
natureza biológica. As dioxinas passaram a ser "tristemente
célebres" a partir de acidentes graves de derrames em unidades
industriais do sector químico, como foram o de Times Beach,
Missouri, EUA, no início dos anos 70, e principalmente o de Seveso,
Milão, Itália, que ocorreu em 1976. No dia 10 de Julho de 1976
verificou-se uma libertação extemporânea de urna mistura de
compostos químicos contendo 2,3,7,8- tetra clorodibenzo-p-dioxina
(TCDD), para a atmosfera, a partir de uma fábrica da indústria
química situada na localidade de Seveso, atingindo uma área
considerável, densamente povoada, nas proximidades de Milão. A
ocorrência deste acidente veio mostrar a necessidade da Indústria
conhecer em detalhe os riscos e perigosidade dos produtos libertados
em condições de emergência ou acidente, mas também as
dificuldades, tanto da indústria como das autoridades, em fazer face
a emergências desta natureza. Eata circunstância levou ao
aparecimento de uma nova filosofia de notificação e prevenção de
acidentes industriais ditos "graves", consubstanciada por
legislação europeia específica conhecida corno a Directiva
Comunitária Seveso. Além disso ficaram ainda
evidentes os poucos conhecimentos de que se dipunha acerca das
dioxinas, em termos da sua química, mecanismos de formação e de
reacção, e toxicidade.
2. CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E QUÍMICAS
DAS DIOXINAS E DIBENZOFURANOS A primeira dioxina clorada foi
sintetizada em 1872 por Merz e Weith, mas a estrutura do composto só
ficou completamente esclarecida em 1957 [1]. A primeira síntese de
TCDD também foi efectuada em 1957 [2], tendo-se verificado que, em
ambos os casos, os técnicos de laboratório envolvidos nos trabalhos
foram hospitalizados com sintomas de intoxicação [3]. Entre esta
data e o acidente de Seveso, encontram-se documentados diversos
acidentes ocorridos no processo de produção de 2,4,5-triclorofenol
a partir de 1,2,4,5- -tetraclorobenzeno, que atingiram mais de 410
trabalhadores. No entanto, a toxicidade da TCDD só passou a ser
devidamente estudada a partir do acidente de Seveso [4]. Os derivados
clorados das dibenzo-para-dioxinas são compostos orgânicos com
analogias estruturais com os hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
(PAHs). Os átomos de hidrogénio das posições 1 a 8 podem ser
todos substituídos por átomos de cloro, havendo assim um total de
75 possibilidades
de ocorrência de derivados clorados diferentes, de
entre os quais a 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (2,3,7,8-PCDD ou
TCDD), é o que apresenta o maior QUÍMICA - 72 . 1999 15 a r t i g
tI grau de toxicidade [5 e 6]. A investigação sistemática destes
compostos efectuada a partir de 1976 revelou aspectos da elevada
toxicidade das dioxinas e, em particular, que a TCDD é
declaradamente a substancia cancerígena mais potente, em termos de
organismos humanos, alguma vez avaliada pela USEPA, a Agência de
Protecção Ambiental Americana [6]. Isto significa
que mesmo a exposição a quantidades extraordinariamente diminutas
deste composto pode provocar efeitos, na saúde, muito sérios e
irreversíveis. Diversos estudos toxicológicos em roedores, peixes e
macacos têm vindo a demonstrar que a exposi- ção a TCDD tem
efeitos carcinogénicos, reduz as defesas imunológicas e a
fertilidade [5]. Apesar da quase total inexistência de estudos em
humanos, por razõ- es compreensíveis, reconhece-se que a
persistência de TCDD no organismo é elevada, sendo estimada a sua
meiavida no organismo em cerca de 7 anos. Até agora, os efeitos
observáveis em indivíduos expostos a dioxinas têm estado
associados a sindromas não letais como o aparecimento de cloroacne,
a activação de alguns enzimas (tais como os da família dos
citocromos P450) e a possível redução da contagem de
espermatozóides, hem corno alterações do sistema imunoló- gico e
da velocidade de coagulação do sangue [6]. A exposição dos seres
humanos a altos níveis de concentração de dioxinas ocorrida
durante os graves acidentes industriais anteriormente referidos
resultou, em primeiro lugar em afecções tais como cloroacne e
doenças do fígado [7]. Estudos epidemiológicos efectuados sobre as
populações expostas e publicados depois desta data [8], estabelecem
definitivamente que as dioxinas são promotores/carcinogénicos corno
já havia sido demonstrado em animais. Os indícios existentes
relativos à elevada toxicidade são mais do que suficientes para
impor a identificação das fontes de dioxinas e reduzir as emissões
para o ambiente, evitando assim contamina- ções através da cadeia
alimentar que é urna das principais fontes próximas de contaminação
do homem. 3. FONTES PRINCIPAIS EMISSORAS DE DIOXINAS E DIBENZOFURANOS
PARA A ATMOSFERA Historicamente, as fontes emissoras de dioxinas e
dibenzofuranos classificam-se em três categorias principais: a)
Industriais : —processos da indústria química — processos da
indústria de celulose e papel —processos metalúrgicos e side
rúrgicos —desengorduramento de metais —fabrico de retardantes de
chama contendo bromo e/ou cloro h) Processos de combustão 11.1)
Fontes estacionárias : —incineradoras de resíduos municipais —
incineradoras de resíduos tóxicos e perigosos —incineradoras de
resíduos hospitalares —combustão de lamas de depuração de ETARs
—processos de reciclagem de metais b.2) fontes móveis : —exaustão
de gases de veículos automóveis —incêndios florestais e
incêndios controlados em actividades agrícolas —fumo de cigarros
b.3) fontes acidentais: —combustão de policlorobifenilos (PCB),
PVC, incêndios envolvendo outros materiais plásticos, etc. c)
Fontes secundárias: —exaustão de gases provenientes de aterros e
áreas contaminadas —aplicações decorrentes da utilização de
lamas de depuração de Estações de Tratamento de Aguas Residuais
(ETAR) 3.1. Indústria química e indústrias paraquímicas No que
diz respeito aos processos de produção da indústria química, são
de salientar os seguintes processos como potenciais geradores de
dioxinas e dibenzofuranos como produtos secundários do processo de
fabrico por ordem decrescente de importância : —produção de
clorofenóis e seus derivados —produção de clorobenzeno e
clorobenzenos substituídos —síntese de compostos clorados
alifáticos —processos que recorrem a intermediários clorados
—produção de compostos clorados inorgânicos —processos que
utilizam solventes e catalisadores clorados —manufactura de
retardantes de chama contendo bromo e/ou cloro A indústria química
e as industrias paraquímicas que utilizam compostos de cloro têm
vindo a aceitar a necessidade de contribuir para o estudo e resolução
do problema, investindo em tecnologias mais limpas ou, quando
possível, isentas de cloro. O melhor exemplo a este respeito é a
evolução recente que se verificou no sector de produção de pasta
de celulose, em que foram inicialmente desenvolvidas as tecnologias
ECF ("Elemental Chlorine Free" - isenta de cloro elementar)
e posteriormente TCF ("Total Chlorine Free", isenta de
quaisquer compostos de cloro). No caso deste sector industrial a
matéria-prima, a madeira, é a fonte de compostos orgânicos que
sofrem halogenação pelo contacto com os agentes clorados que
intervêm no processo de branqueamento, tendo a formação de
compostos organoclorados vindo a ser reconhecida nesses processos de
fabrico [9]. Rosenberg et al [10] efectuou um estudo de
caracterização das atmosferas ocupacionais da unidade de
branqueamento e da máquina de papel de uma fábrica de produção de
pasta na Finlândia. Foram encontradas concentrações (expressas
como I-TEQ), no ar, de 2,3,7,8 dioxinas e dibenzofuranos que variavam
entre 0,04 e 1,9 pg/m 3 , tendo-se que os dibenzofuranos se
encontravam presentes em quase todas as amostras e as dioxinas em
muito poucas. É de registar que se verificou, neste estudo, que as
concentrações mais elevadas de ambos os compostos foram obtidas nas
amostras colhidas na unidade de branqueamento quan- 16 QUÍMICA •
72.1999 Tabela I - Emissões de PCDD/PCDF nos gases de exaustão de
um incinerador de resíduos sólidos urbanos (RSU) de segunda geração
(média de 22 amostras) PCDD ng/Nm3 PCDF ng/Nm3 2,3,7,8-CI 4 DD 0,5
2,3,7,8-CI4DF 2,1 Total das espécies CI 4 DD 11 Total das espécies
CI4DF 72 1,2,3,7,8-CI ; DD 2,3 1,2,3,7,8-CI7DF 7,8 Total das espécies
CI S DD 24 Total das espécies CI 5 DF 112 1,2,3,4,7,8-CI 6 DD 2,9
1,2,3,4,7,8-CI6DF 13,1 1,2,3,6,7,8-CI 6 DD 4,0 1,2,3,6,7,8-CI6DF 12,0
1,2,3,7,8,9-CI 6 DD 3,6 1,2,3,7,8,9-CI6DF 1,1 Total das espeécies CI
6DD 41 Total das espécies CI 6 DF 98 1,2,3,4,6,7,8-CI 7DD 27,3
1,2,3,4,6,7,8-CI7DF 71,0 Total das espécies CI 7DD 57
1,2,3,4,7,8,9-CI7DF 7,0 CI 5DD 148 Total das espécies CI 7DF 106
Total das espécies C1 4-CI S DF 281 CIt1DF 95 I-TEQ 11,8 Total das
espécies C1 4 -CI 8 DF 483 Fonte: 1241 í3 i ^ o do esta processava
madeiras de bétula. Os compostos halogenados como as dioxinas e
dibenzofuranos que se formam no processo de produção de pasta de
celulose são emitidos para o ambiente exterior nos efluentes gasosos
e em suspensão nos efluentes líquidos, em particular no caso dos
provenientes das unidades de branqueamento de pasta.
Uma vez que se trata de compostos muito estáveis,
extraordinariamente difíceis de degradar (são estáveis a
temperaturas superiores a 700 C, o que é uma razão para a sua
elevada persistência), estas espécies ficam em grande parte retidas
nas lamas quando se efectua o tratamento de efluentes líquidos.
Essas lamas podem sofrer vários tipos de utilização, entre os
quais a reciclagem para produção de papel se o teor e qualidade de
fibras ainda for apreciável, embora muitas vezes sejam depositadas
em aterro ou incineradas em caldeiras de biomassa.
Se tal acontece, as dioxinas presentes nas lamas podem vir a ser, em
parte, emitidas para a atmosfera, dada a dificuldade de destruir
esses compostos, mesmo às altas temperaturas verificadas nas
unidades de combustão [11]. Além disso,
verificase a ocorrência destes compostos nas cinzas resultantes da
operação dessas caldeiras, de acordo com os estudos de Someshwar et
al. [ 12]. Estes autores, através de uma série de campanhas de
medição efectuadas em unidades nos Estados Unidos, encontraram um
teor de emissão médio, para estas caldeiras, de 4,9 10-10 kg I-TEQ
por tonelada de lamas alimentada. Em incineradores de resíduos
sólidos urbanos a emissão típica média era em 1987 de 1,4 x 10 -
7 kg 1-TEQ por tonelada de resíduos. Nos modernos incineradores de
resíduos sólidos as emissões típicas são hoje mais de 10000
vezes inferiores. 3.2. Indústria Siderúrgica Outro sector
industrial em que se verifica ocorrerem emissões não
neglicenciáveis de dioxinas é o sector siderúrgico. De uma
pesquisa efectuada, recentemente, sobre o sector siderúrgico sueco
chegou-se ao quantitativo global de 0,8 ng I-TEQ/g de partículas
emitidas [ 13], considerando a Agencia de Protecção Ambiental Sueca
que este sector é a principal fonte de dioxinas neste pais. Também
na Suécia e na Holanda foram detectados, em unidades típicas de
sinterização, teores nos efluentes gasosos superiores a 3 ng/Nm 3 t
o que faz corresponder (nesses países) a um valor médio de cerca de
24 g I- -TEQ/ano por unidade fabril que integre uma unidade desse
tipo. Do mesmo modo, em partículas emitidas a partir de processos de
fundição, tem vindo a ser detectada a presença de dioxinas em
quantidades superiores a 22,7 ng I-TEQ/g. Se hem que existam poucos
estudos a respeito deste sector para a Europa do Sul, é de prever
que os teores sejam também elevados nesta região, tanto mais que
aqui se verifica, geralmente, a existência de unidades antigas, de
pequenas dimensões, e que processam grandes quantidades de sucata de
metais ferrosos, muitas vezes contaminada com outros materiais. 3.3.
Incineração de resíduos Por último, o sector da incinera- ção
de resíduos, quer se trate de resí- duos sólidos urbanos (RSU),
quer se trate de resíduos urbanos, hospitalares ou tóxicos e
perigosos, é, sem dú- vida aquele que é mais do conhecimento pelo
público corno potencial fonte de emissões de dioxinas, estando
assim sujeito a grande pressão por parte deste e dos media.
Possivelmente por estas razões existe, na generalidade, um melhor
conhecimento dos níveis de emissão neste tipo de unidades, que são
fruto de intenso estudo analítico [4]. Assim, no que diz respeito às
emissões de unidades de incineração de resíduos sólidos, os
níveis de incerteza são de facto menores uma vez que as condições
de amostragem são mais favoráveis e as investigações efectuadas
sobre estas últimas fontes resultaram num melhor conhecimento dos
mecanismos de formação e decomposição destes compostos,
principalmente nos sistemas de incineração de resíduos urbanos
[14]. Na tabela I apresentam-se dados dos teores típicos de dioxinas
e dibenzofuranos presentes em gases de exaustão de incineradoras de
resí- duos sólidos urbanos. 3.4. Veículos automóveis Conforme se
referiu anteriormente, a exaustão de gases de escape de veículos
automóveis é ainda responsável pela emissão de compostos desta
natureza para a atmosfera. Compostos halogenados como o dibromometano
e o dicloroetano são adicionados à gasolina com chumbo para evitar
a deposição de compostos de chumbo nos motores. A ausência QUÍMICA
. 72 • 1999 17 Tabela II - Estimativa das emissões anuais de
dioxinas e congéneres referidos a 1995, no Reino Unido Processo
Estimativa de emissões para a atmosfera (g I-TEQ/ano) Produção de
coque 2 Combustão de carvão 5-67 Combustão de óleos residuais
0,8-24 Combustão de macieira 1,4-2,9 Combustão de palha 3,4-10
Combustão de pneus 1,7 Combustão de gás de aterros 1,6-5,5
Unidades sinterização 29-54 Siderurgias 3-41 Fundições
(não-ferrosos) 5-35 Cimentos a 0,2-11 Calcários 0,04-2,2 Vidro
0,005-0,01 Cerâmica 0,02-0,06 Compostos halogenados 0,02 Pesticidas
0,1-0,3 Combustão de RSU 460-580 Combustão de resíduos químicos
1,5-8,7 Combustão de resíduos hospitalares 18-88 Combustão de
lamas de ETARS 0,7-6 Asfaltos 1,6 Crematórios 1-35 Combustão
doméstica 22-52 Trafego automóvel 1-45 Fogos naturais 0,4-12 TOTAL
PARA O REINO UNIDO 560-1100 Fonte : 1231 a r t i b o daqueles
compostos na gasolina sem chumbo faz com que a emissão de dioxinas e
dibenzofuranos seja, neste caso, consideravelmente inferior [15].
3.5. Fontes diversas Na Tabela II apresentam-se valores estimados
para as emissões anuais de dioxinas e congéneres para a atmosfera
no Reino Unido, referidas a 1995, por sectores de actividade. É de
assinalar neste dados a elevada contribuição da incineração de
Resíduos Sólidos Urbanos, que resulta de estarem ainda em
funcionamento no Reino Unido, unidades de incineração de primeira e
de segunda geração. Grande parte destas unidades vai ter de
instalar sistemas adicionais de purificação dos gases efluentes de
forma a cumprir teores de dioxinas e dibenzofuranos inferiores a 0,1
ng/Nm3 .
TEORES
DE DIOXINAS E DIBENZOFURANOS NO MEIO AMBIENTE As dioxinas e
dibenzofuranos emitidos a partir dos processos de combustão são
transportados através da atmosfera, depositando-se nos oceanos,
lagos e no próprio solo. Devido à sua deposição no meio aquático
e à sua baixa solubilidade em água, estes compostos vão ficando
acumulados nos sedimentos. Por esta razão, o
estudo analítico dos sedimentos permite avaliar quais as fontes que
originaram estes contaminantes e em que altura foram emitidos. Deste
modo, sabe-se que, anteriormente a 1940, apenas se produziram
emissões residuais de PCDD e dibenzofuranos policlorados (PCDF), e
apenas a partir desta data se começaram a verificar emissões
significativas. Estes dados estão de acordo com início das
actividades industriais de produção de compostos clorados.
5. IMPACTO
DAS DIOXINAS E DIBENZOFURANOS SOBRE OS SERES HUMANOS Nos
países mais industrializados do Norte da Europa (Alemanha, Reino
Unido, Holanda) os níveis de dioxinas encontrados em seres humanos
começam a estar perigosamente próximos da dose que se estima ser
capaz de produzir os primeiros sintomas de toxicidade em seres
humanos e animais [16]. Os efeitos sobre seres humanos expostos a
doses baixas de dioxinas e dibenzofuranos incluem alterações do
seguinte tipo : imunossupressão, com consequente diminuição das
defesas do organismo contra agentes patogénicos vindos do exterior;
doença hepática, com aumento de volume do fígado e acumulação
intracelular de gordura (com possível evolução para cirrose
hepática); possível redução da contagem de espermatozóides viá-
veis, o que poderia explicar parcialmente a diminuição acentuada,
nos últimos 50 anos, dos níveis de fertilidade; indução
enzimática dos enzimas hepáticos de destoxificação (família dos
citocromos P450); alteraçõ- es da coagulação sanguínea. Na
Holanda foram detectados casos de derrame sanguíneo cerebral em
recémnascidos, que foram associados a exposições a doses
medianamente elevadas de dioxinas comidas no leite materno [16].
Estes derrames podem estar associados a uma deficiência em vitamina
K (lipossolúvel), que pode aparecer quando há lesão das células
do fígado, e uma redução consequente da quantidade de ácidos
biliares incluídos na bílis. Esta redução origina uma má
absorção de compostos lipossolúveis por deficiente emulsão das
gorduras no duodeno, que terá afectado negativamente a absorção
de vitamina K, resultando nos derrames descritos. O consumo de peixe
por populações humanas, em zonas costeiras do Mar Báltico, foi
também associa- 18 QUÍMICA - 72.1999 a r ti g c) (*) do aos
primeiros sintomas de exposição a dioxinas em doses medianamente
elevadas [17]. As dioxinas estariam neste caso contidas na gordura
do peixe, sendo este
um bom exemplo da contaminação através da cadeia alimentar.
A entrada destes contaminantes no corpo humano faz-se principalmente
por via indirecta, através da cadeia alimentar [18], sendo menos
importante a via de contacto directo corn a pele e a via
respiratória [19]. Os produtos animais contêm apenas um
determinado número de isómeros tóxicos mais estáveis [20], e
diversos estudos [21] demonstram que uma importante percentagem das
dioxinas e dibenzofuranos, procedentes de sedimentos e cinzas
volantes, penetram na cadeia trófica por bioacumulação em
organismos aquáticos. Uma vez o contaminante
presente no corpo humano tende a acumular-se em diversas zonas com
elevado teor em gordura, tais como o tecido adiposo e o leite
materno. Em 1989 efectuaram-se diversas análises de leite humano,
em que foi detectada a presença de PCDD e PCDF [22]. Os níveis
encontrados indicam que não há diferenças entre zonas
industrializadas e outras. Mais de 50% das dioxinas encontradas são
do tipo octaclorodibenzo-p-dioxina, em gamas de concentração entre
200 e 2000 pg/g de gordura. Uma conclusão importante destes estudos
é a de que a concentração de PCDD e PCDF no leite materno
decresce à medida que aumenta o número de filhos que tenham sido
amamentados pelas suas mães, o que indica que a
amamentação é uma via importante de transferência das dioxinas
da mãe para o filho. Além disso, tem-se verificado, por
meio de estudos cinéticos, que os isómeros mais lipofí- licos são
os que se eliminam mais rapidamente através do leite materno.
Vartiainen e Liimatainen [ 16] demonstraram que as dioxinas e
dibenzofuranos são cancerígenos no Homem (cerca de 20 anos após a
exposição), como aliás já tinha sido demonstrado em animais,
embora os mecanismos concretos da geração de tumores não estejam
ainda completamente esclarecidos. Os
"efeitos letais" da exposição teriam assim um período
de incubação de cerca de 20 anos, o que explica a
dificuldade, encontrada até 1991, em estabelecer um nexo de
causalidade entre exposição a dioxinas - tanto no caso de
acidentes graves (exposição a doses altas em curto período de
tempo) como nos casos de trabalhadores expostos a doses mais baixas
por períodos consideráveis - e
o aparecimento de cancro no Homem.
6.
CONCLUSÃO Do exposto, conclui-se que os compostos policlorados da
família das dioxinas e os dibenzofuranos constituem um problema de
que só se tem vindo a tornar consciência recentemente, mas que
tudo indica ser de enorme gravidade, principalmente devido á
facilidade de bio-acumulação, persistência e toxicidade. Além
disso, o seu efeito não se restringe a áreas industriais
limitadas, uma vez que as fontes que os originam são muito variadas
e estes contaminantes são susceptíveis de serem transportadas pelo
vento através da atmosfera até zonas razoavelmente afastadas da
sua fonte de geração. REFERÊNCIAS 1. Gilman, H.;
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Review of Dioxin Emissions in the UK", DoE Report N°
DoE/HMIP/RR/95/004, Sector N' 2.1, DoE, London, 1995. 24. Fielder,
H.; Hutzinger, O., Toxicological and Environmental Chemistry, 29,
157 (1991). * as concentrações de poluentes em gases indicam-se
expressas em unidades de massa por m 3 em condições PTN (Nm 3 )
Departamento de Engenharia Química, Instituto Superior Técnico,
Av. Rovisco Pais, 1096 Lisboa Codex (* *) Faculdade de Farmácia;
Universidade de Lisboa, Av. das Forças Armadas, 1600 Lisboa (***)
Centro de Tecnologias Ambientais, Divisão de Ambiente, Ener